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Boletim
do IEA/USP — nº 76 2ª quinzena de abril de 2006 |
história • Raymundo Faoro, intérprete do Brasil ensino superior editorial agenda | ||
Nota • O sul da Ásia depois do 11 de setembro |
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Lembrete |
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história |
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"Em Raymundo Faoro, a história brasileira não é examinada como simples sucessão de lutas de classes, ou de ajustes e desajustes entre grupos sociais. Ele introduz as noções de estamento, casta e classe social de modo inovador, jogando luz sobre os diversos aspectos de nossa formação, em que nossa 'modernidade' aparece amarrada em formas serôdias de organização social e mental: uma cultura estamental-oligárquica e de substrato escravista que ainda comanda o presente."
A avaliação é do historiador Carlos Guilherme Mota, professor honorário e ex-diretor do IEA, um dos coordenadores dos seminários "Raymundo Faoro: Intérprete do Brasil", que acontecem nos dias 27 e 28 de abril, das 9h30 às 12h30. Os outros coordenadores são Ary Oswaldo Mattos Filho e Antônio Angarita, ambos da Escola de Direito de São Paulo (Edesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O seminário de abertura, no dia 27, no IEA, coincide com a data de nascimento de Faoro, que morreu em 2003, aos 78 anos. O tema desse dia será "Do Pensamento Radical: Raymundo Faoro", com exposição de Gabriel Cohn, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. No dia 28 o seminário será na Edesp/FGV, com o tema "Raymundo Faoro e as Interpretações do Brasil". Os expositores serão Gabriela Nunes Ferreira, da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp em Araraquara e pesquisadora da Edesp/FGV, e Bernardo Ricupero, da FFLCH/USP. (Leia outras informações na programação abaixo.) Um dos intelectuais mais importantes do Brasil no século 20, Faoro combinou ao longo da vida as atividades de advogado, jurista, historiador, cientista político, crítico literário e jornalista. "Ele escreveu uma das interpretações mais abrangentes da história do Brasil, 'Os Donos do Poder' (1958), sobre a formação do patronato político brasileiro. Como historiador da literatura, produziu 'Machado de Assis: A Pirâmide e o Trapézio' (1974), em que decifra a história da cultura e da sociedade pelo flanco da literatura." Mota destaca também a atuação do intelectual como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na luta contra a última ditadura.O aspecto inovador da obra de Faoro reside, segundo Mota, em considerar o processo histórico-político-ideológico, por meio do qual examina a vida do País sempre em seus vários níveis de historicidade, com ênfase nas persistências, remanescências e heranças, o que permite compreender por que no Brasil as reformas são lentas, descontínuas, débeis, e por que jamais emergiu uma genuína cultura brasileira. "Para entendermos nossa (in)atualidade, as teses de Faoro, com sua pitada de ceticismo, são fundamentais." Para exemplificar a influência de Faoro, Mota destaca que o pensador deixou marcas fortes em intelectuais como Florestan Fernandes ("que utilizava a expressão 'donos do poder' na acepção de Faoro"), Maurício Tragtenberg, Fábio Konder Comparato, Maria Victoria Benevides, Paulo Sérgio Pinheiro, Gabriel Cohn, Antônio Angarita e Joaquim Falcão, em muitos jovens historiadores e juristas da atualidade e em jornalistas como Mino Carta e políticos como Severo Gomes. O reconhecimento da fecundidade da reflexão de Faoro só ocorreu de fato após o AI-5, "quando mitos sobre nosssa 'democracia', sobre nossa 'cordialidade', sobre nossa harmonia racial revelaram-se inconsistentes e insuportáveis", ressalta Mota. "Até então, pouquíssimos levaram a sério suas teorias, taxadas de 'weberianas', 'liberais'. A ditadura provocou essa nova leitura daquele gaúcho que desvendara os mecanismos de dominação político-ideológica, cuja cristalização se deu após 1968, até 1984." Quanto às influências sofridas por Faoro, Mota lembra que, além de Max Weber, Antonio Gramsci foi um dos pensadores dos quais ele tinha uma boa leitura. "Na crítica literária, foi muito marcado por Augusto Meyer e teve entre os companheiros de geração Hermes Lima e Francisco de Assis Barbosa. Como temperamento, seu ponto forte residia no ceticismo militante com raiz em Montaigne, retomado em Machado de Assis." As três contribuições de Faoro para a revista "Estudos Avançados" estão disponíveis em www.iea.usp.br/iea/revista/online/faoro. São elas: a íntegra da conferência "Existe um Pensamento Político Brasileiro?", feita em agosto de 1986, primeira atividade pública do IEA; a íntegra da conferência "A Questão Nacional: A Modernização", realizada em março de 1992; e o artigo "Um Momento Decisivo na História", de 1998, sobre os 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, completados em 1997. O vídeo da conferência de 1992 pode ser assistido na Midiateca Online do Instituto: www.iea.usp.br/online/midiateca. PROGRAMAÇÃO Dia 27 de abril — 9h30-12h30 Dia 28 de abril — 9h30-12h30 Raymundo Faoro e as Interpretações do Brasil
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ensino superior |
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"Precisando mudar, mas impedida de fazê-lo, a universidade será provavelmente substituída por outro tipo de instituição, que preencherá o papel de vanguarda do saber, desempenhado por ela nos últimos mil anos", vaticina Cristovam Buarque, senador (PDT-DF), ex-ministro da Educação e ex-reitor da Universidade de Brasília. No dia 15 de maio, às 9h, Buarque dará a conferência "A Pós-Universidade". O evento marca o lançamento do livro Ensino Superior: Conceito & Dinâmica, co-edição IEA e Edusp, com apoio da Fapesp.
Buarque tem esperança que a universidade evolua, sem necessidade de outra instituição, a pós-universidade: "Diversas universidades estão fazendo essa evolução, isoladamente. O que vai definir se a universidade evoluirá ou se a pós-universidade tomará seu lugar vai depender do resultado do processo entre as universidades-evolucionistas, que se transformam, e as universidades-convento, que reagem à mudança". A referência aos conventos deve-se ao monopólio que eles detinham do ensino antes de serem suplantados pelas universidades, pois "não foram capazes de se ajustar e se transformar". Para Buarque, as razões que exigem a transformação da universidade são: a velocidade com que as idéias evoluem em cada área e na criação e superação de outras; a revolução da teleinformática, propiciando meios nunca antes imaginados para a disseminação do conhecimento, sem necessidade de intermediação da universidade; o isolamento da universidade em relação aos mais pobres; a globalização, com a interligação internacional instantânea da economia, saber e cultura. No seu entender, caso as universidades sejam suplantadas pela pós-universidade, esta será uma instituição em rede eletrônica, sem endereço, sem nacionalidade, da qual todos poderão participar pelo prazo que lhes for conveniente, mas não terão direito a diploma, pois no ano seguinte o saber adquirido já terá sido superado. O diálogo substituirá as aulas, não havendo fronteira nítida entre professores e alunos. Haverá dirigentes, mas que não poderão exercer um poder hegemônico, sendo também vedada a predominância de uma área sobre outra. Buarque também prevê que será abandonada a divisão do saber em disciplinas e não haverá neutralidade na geração do conhecimento, que deverá ser pautado pelo controle ético da pesquisa e por um método capaz de casar racionalidade com valores morais. O senador avalia que a universidade se isola de seu entorno, ao mesmo tempo que interage intelectualmente cada vez mais com o mundo. Se continuar assim, "a universidade perder-se-á eticamente". Caberá à pós-universidade "lutar para que o destino da humanidade não seja a ruptura, e sim o encontro". Considera também que ela será integrada não só por centros específicos de ensino e pesquisa, mas também por todos os outros ambientes que geram saber: indústrias, consultorias, laboratórios, escritórios domésticos. Quanto ao financiamento, Buarque acredita que será levada em conta a divisão entre os cursos de interesse basicamente público — como a formação de professores para a educação básica — e aqueles de interesse basicamente privado — como os voltados apenas para a promoção pessoal do aluno. Não havendo recursos estatais para financiamento de todos os cursos, os de interesse público serão pagos pelo Estado, mesmo em instituições particulares, enquanto os de interesse privado terão cobrança de anuidades, mesmo em instituições estatais. Buarque é engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em economia pela Sorbonne, França. É professor da Universidade de Brasília desde 1979. Elegeu-se senador pelo PT em 2002 e em setembro de 2005 filiou-se ao PDT. Publicou mais de 20 livros. Leia os artigos de Cristovam Buarque "A Pós-Universidade" e "A Refundação da Universidade" em www.iea.usp.br/ensinosuperior.Local: Sala do Conselho Universitário, Rua da Reitoria, 109, Cidade Universitária, São Paulo. Internet: transmissão ao vivo em www.iea.usp.br/aovivo. Informações: com Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1684.
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editorial |
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A revista "Estudos Avançados" foi criada no final do primeiro ano de existência do IEA, onde é publicada há 19 anos. Desde então ela percorreu um longo caminho, mas sempre manteve uma constante: a qualidade.Em 2004, o IEA decidiu disponibilizar a revista na Internet, através da SciELO (Scientific Electronic Library Online). Essa decisão revelou-se um feliz acerto, uma vez que esse passo ampliou de forma acentuada a visibilidade e o impacto da publicação.A SciELO é o resultado de uma parceria formada inicialmente pela Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e pela Fapesp, contando atualmente também com contribuição do CNPq. Hoje a SciELO já reúne quase 150 revistas brasileiras de todas as áreas do conhecimento, criteriosamente selecionadas. O número de acessos a artigos já ultrapassou os 5 milhões por mês e continua a crescer de forma surpreendente.O ensino à distância é cada vez mais necessário e demandado. O principal gargalo desse tipo de educação é a produção de material de qualidade. Poucas organizações do mundo oferecem material em quantidade e qualidade como a SciELO; ela é, portanto, uma verdadeira universidade pública virtual.A colocação da coleção completa de "Estudos Avançados" na Internet custou esforço e recursos financeiros significativos, pois foi necessário, além de preparar artigo por artigo, digitalizar boa parte do acervo. A possibilidade de disponibilizar a revista para toda a sociedade brasileira foi o fator determinante que nos incentivou a levar a tarefa a cabo. Nossa juventude (o que inclui também a mim!) busca grande parte das informações de que necessita na Internet. No entanto, o conteúdo existente em língua portuguesa, além de reduzido, é de qualidade freqüentemente questionável. Por que não disponibilizar um acervo como o de "Estudos Avançados"?O retorno não tardou. Se o número de acessos a artigos em novembro de 2004 era de 10 mil por mês, em junho de 2005 já chegava a 40 mil. Em março de 2006, antes de mesmo completar-se a coleção na SciELO — que aconteceu na primeira quinzena de abril —, o número de acessos mensais já ultrapassou os 100 mil. Trata-se de um marco extraordinário. O mais surpreendente é que os números continuam em expansão acelerada.Quero aproveitar a oportunidade para agradecer a toda equipe do IEA e da revista, bem como a seu editor, Alfredo Bosi, pelo incansável trabalho realizado. Ao completar 20 anos, o IEA se orgulha de oferecer mais esse serviço à sociedade brasileira.
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agenda |
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ABRIL • Dia 19, 15h — O Estudo da Diversidade Genética de Vírus no Estado de São Paulo, conferência de Paolo Zanotto, do ICB/USP e um dos coordenadores gerais da Rede de Diversidade Genética de Vírus da Fapesp. • Dias 27 e 28, 9h30 — Raymundo Faoro: Intérprete do Brasil, seminários com exposições de Gabriel Cohn (FFLCH/USP), Gabriela Nunes Ferreira (FCL/Unesp) e Bernardo Ricupero (FFLCH/USP); coordenação de Carlos Gulherme Mota (IEA, Edesp/FGV e UPM), Antônio Angarita (Edesp/FGV) e Ary Oswaldo Mattos Filho (Edesp/FGV).
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Nota |
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O sul da Ásia depois do 11 de setembro "A Dinâmica do Sul da Ásia Pós-11 de Setembro: Fatores Internos e Externos" será o tema da conferência de Shireen Mazari, diretora geral do Instituto de Estudos Estratégicos, do Paquistão, no dia 28 de abril, às 10h (o evento será em inglês). Debaterão com ela o diplomata Amaury Porto de Oliveira, ex-embaixador do Brasil em Cingapura e integrante do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (Gacint) da USP, e o historiador Peter Demant, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e também integrante do Gacint. Mazari abordará, entre outros temas, as relações Índia-Paquistão, a questão da Cachemira e o diálogo multidisciplinar de aproximação entre os dois países; o fator Estados Unidos e o acordo nuclear civil indo-norte-americano; e as tensões fronteiriças com o Afeganistão e com a Índia no combate ao terrorismo. O evento acontece no Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA (mapa). Informações: Inês Iwashita (ineshita@usp.br), telefone (11) 3091-1685.
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