REVISTA PUBLICAÇÃO QUADRIMESTRAL DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP |
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Dossiê da edição 56 analisa cenários para o Brasil Um país capaz de estabilizar o regime democrático, ampliar a fiscalização popular das decisões políticas, voltar a crescer a taxas históricas (pré-anos 1980), enfrentar com sucesso as disparidades regionais e de renda, investir na educação e no desenvolvimento tecnológico, tornar suas cidades mais organizadas e seguras e de exercer influência mundial, sobretudo na América Latina, sempre lidando de forma eficaz e criativa com os desafios ambientais e os efeitos políticos e econômicos da globalização. Esse é o cenário desejado para o Brasil nos próximos 16 anos. Mas como identificar os pontos críticos que dificultam o caminho para que esse cenário se concretize? Com esse fim, o IEA criou em 2005 o projeto "Brasil: O País no Futuro — 2022". A primeira atividade da iniciativa foi um ciclo de seminários em agosto e setembro para a produção de diagnósticos em áreas essenciais ao desenvolvimento do País. As exposições do ciclo foram editadas e agora estarão disponíveis em dossiê do nº 56 da revista Estudos Avançados. O dossiê conta também com apresentação escrita por Alexandre Polesi, secretário executivo do projeto, e artigo sobre a metodologia Delphi empregada no tratamento de dados obtidos em consultas a especialistas, produzido por James Wright, coordenador metodológico do projeto, com assistência de Renata Spers. Os seminários de 2005 e os respectivos textos do dossiê são: Instituições Políticas — expositor: Bolívar Lamounier; debatedores: Gildo Marçal Brandão, Rogério Arantes, Brasílio Sallum Jr. e Antônio Octávio Cintra; Relações Internacionais e Território — expositor: Sebastião Velasco e Cruz; debatedores: Ricardo Sennes, Oliveiros Ferreira, Antônio Carlos Robert de Moraes, Nina Ranieri e Sérgio Fausto; Segurança Pública e Desenvolvimento Urbano — expositor: Luiz Eduardo Soares; debatedores: Regina Meyer, Eduardo Marques e Bruno Paes Manso; Economia e Seguridade — expositor: Guilherme Dias; debatedores: Hélio Zylberstajn, Leda Paulani e Paulo Furquim de Azevedo; Conhecimento — expositor: João Steiner; debatedores: Simon Schwartzman, Angela Uller e Naércio Aquino Menezes Filho; Meio Ambiente — expositor: Eneas Salati; debatedores: Pedro Leite da Silva Dias e Jacques Marcovitch; A próxima fase do projeto, em 2006, compreenderá a realização de uma segunda pesquisa Delphi, que permitirá a atualização dos cenários desenhados no final de 2004 —durante a participação do grupo de pesquisa do IEA no projeto Brasil 3 Tempos, do governo federal — e a preparação de uma base de dados de um programa sistemático e permanente de prospecção de cenários. O projeto "Brasil: O País no Futuro — 2022" tem coordenação geral de Geraldo Forbes, pesquisador visitante do IEA. ÁGUAS DO SÃO FRANCISCO
Outro destaque do nº 56 é a discussão sobre o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Participam Dom Luiz Cappio, bisco de Barra (BA), que em 2005 fez uma greve de fome de 12 dias contra o projeto, e o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, defensor da proposta. Em entrevista concedida a Marco Antônio Coelho, editor executivo da revista, e Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV-SP, Dom Cappio fala de sua formação intelectual e religiosa, seu envolvimento com os problemas enfrentados pela população que vive às margens do São Francisco e do porquê de sua decisão de fazer a greve de fome, de como ela se desenrolou e da abertura do diálogo com o governo federal. (Assista ao vídeo com uma seleção dos principais trechos da entrevista.) Dom Cappio considera o rio São Francisco "a mãe e o pai de todo o povo, de onde tiram o peixe para comer, a água para beber e molhar suas plantações — principalmente em suas ilhas e áreas de vazantes. Mesmo não sendo o maior rio brasileiro em volume d'água, talvez seja o mais importante do País, porque é a condição de vida da população. Sempre dizemos: rio São Francisco vivo, povo vivo; rio São Francisco doente e morto, população doente e morta". Para ele, esse componente ecológico se reflete numa intenção social e antropológica: "Um rio com toda sua riqueza passa a ser importante na vida de um povo e na sua maneira de se organizar". Por sua vez, o governador do Ceará critica em seu artigo os opositores ao projeto de transposição que alegam riscos de males ecológicos e econômicos ao País. Alcântara diz que esses opositores desconsideram que já estão em andamento ações de controle da erosão na bacia do rio; monitoramente da qualidade da água; reflorestamento das nascentes, margens e áreas degradadas na bacia; e estudos para a conformação do leito navegável. "Hoje sabemos que é possível erguer obras estruturantes fundamentais de forma planejada, responsável e conseqüente, evitando desperdícios de verba pública, estorvos para a população e danos ao meio ambiente." Alcântara afirma que, com a transposição, "alguns açudes estratégicos poderiam multiplicar a sua vazão regularizada, sendo que apenas nos anos críticos de estiagem a transposição ocorreria nos limites máximos". Além disso, avalia que a execução do projeto permitiria a expansão da irrigação no Vale do São Francisco em 800 mil hectares nos próximos anos, o que significaria "maior produtividades agrícola, incentivo à fruticultura, criação de novos empregos e geração de renda para milhares de famílias, especialmente na região do semi-árido, a mais penalizada pelas estiagens e pelo descaso público". OUTRAS SEÇÕES Estudos Avançados nº 56 tem também as seções "Políticas Públicas: Nova Abordagem", "Universidade", "Cultura e Sociedade", "Resenhas" (inaugurada nesta edição) e uma homenagem a Gilda de Mello e Souza, morta em dezembro de 2005.
Às vésperas da Revolução Francesa o escritor Chamfort perguntou a uma dama da aristocracia, Madame Rochefort, se ela teria vontade de conhecer o futuro. A resposta foi cortante: "Não, ele se parece demais com o passado". Dirão os historiadores progressistas que Madame Rochefort se enganou: veio a Revolução, caiu a nobreza, a burguesia subiu, o mundo mudou. Já os pessimistas concordariam com aquele prognóstico: veio Napoleão, veio a Restauração, veio a Santa Aliança; e a escravidão negra continuou ainda por cinqüenta anos nas colônias francesas, e por cem anos no Brasil... Por isso andaram bem os consultores do projeto "Brasil: O País no Futuro — 2022", que abre este número de Estudos Avançados. Não há certezas absolutas quando se fazem previsões. Só há cenários possíveis com graus diversos de probabilidade. É o que o leitor conferirá ao analisar os tópicos e as suas ocorrências prováveis. São tabelas seguidas de textos interpretativos que versam sobre dimensões vitais da realidade brasileira. Qui vivra verra. Quanto ao dossiê "Políticas Públicas: Novas Abordagens", resultou de seminários promovidos pelo IEA. O objetivo era estudar experiências voltadas para reverter quadros de desnutrição em setores pobres da população brasileira. Publicando artigos que expõem princípios gerais, reservamos para o próximo número a edição dos resultados de projetos específicos realizados em áreas carentes da Bahia e de Minas Gerais. Seguem-se estudos, calçados em diferentes pressupostos teóricos, sobre os desafios que a universidade brasileira enfrenta neste começo de milênio. Para a seção de cultura humanística foram dedicados textos sobre Cairu, Benjamin e Saint-Simon bem como uma apresentação da arte neoconcreta de Willys de Castro. Continuando a série "Polêmicas", destacamos uma das questões mais controversas do momento brasileiro atual, a transposição das águas do São Francisco. Como de praxe, apresentamos pontos de vista contrastantes. Chamamos a atenção do leitor para uma novidade: uma seção de "Resenhas" de obras sobre temas candentes que convidam à leitura e ao debate. Por fim, como homenagem póstuma à professora Gilda de Mello e Souza, publicamos um texto que busca fazer jus à originalidade e à beleza de sua obra de crítica de arte. Alfredo
Bosi
EDITORIAL DOSSIÊ "BRASIL: O PAÍS NO FUTURO — 2022 POLÍTICAS PÚBLICAS: NOVA ABORDAGEM UNIVERSIDADE CULTURA E SOCIEDADE POLÊMICAS HOMENAGEM RESENHAS |