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Boletim
quinzenal do IEA/USP — nº 67 1ª quinzena de outubro
de 2005 |
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) consiste numa forma de compensação pela redução do carbono emitido: países obrigados a reduzir suas emissões mas sem possibilidade de fazê-lo compram "certificados de carbono" de outros com mais facilidade para isso ou capacidade de capturar carbono da atmosfera pelo reflorestamento de áreas degradadas. No entanto, as obrigações resultantes do Protocolo de Kyoto terminam em 2012 e os investidores precisam de garantias de que o MDL continuará a existir depois daquela data, do contrário, deixarão de investir. Por essa e outras razões, o astrofísico Luiz Gylvan Meira Filho, professor visitante do IEA, defende a criação de um novo protocolo, a vigorar a partir de 2012 e que não seja necessariamente uma extensão do atual. (Leia o artigo "Um Novo Protocolo de Kyoto", de Meira Filho e José Goldemberg, publicado na edição nº 56 de contato,.) A implementação de Kyoto e as tratativas sobre o que virá a seguir serão analisadas por Meira Filho na conferência "A Evolução do Regime Internacional de Mudança do Clima", dia 25 de outubro, às 17h, no IEA. O evento terá transmissão ao vivo pela web.
Doutor em astrofísica pela Universidade do Colorado, EUA, Meira Filho foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 1965 a 1992. Atuou em vários cargos de chefia e direção no instituto, onde se aposentou como pesquisador titular. De 1994 a 2001, foi presidente da Agência Espacial Brasileira, tendo em seguida assumido o cargo de secretário de Políticas e Programas de Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia, onde permaneceu até o final de 2002. Em 2003, foi conselheiro científico sênior da Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. É presidente dos Grupos de Negociação dos Artigos 3 (sobre metas de redução de emissões dos países industrializados) e 12 (sobre o MDL) do Protocolo de Kyoto, do qual também presidiu o Painel sobre Metodologias de Linhas de Base da Junta Executiva do MDL. Foi vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. "Atribuição de Causa e Decisão Ótima na Mudança Global do Clima" é o projeto de pesquisa de Meira Filho no IEA. Nele, desenvolve algumas ferramentas que possam ser úteis para a formulação de políticas públicas no setor. Esses recursos estão sendo elaborados a partir de seminários, intercâmbio com pesquisadores da USP e de outras instituições ligados ao problema (sobretudo aqueles das áreas de geociências, energia e políticas públicas) e publicações. Mais: o evento acontece no Auditório Alberto Carvalho da Silva, IEA, Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, térreo, Edifício da Antiga Reitoria, Cidade Universitária, São Paulo (mapa); informações adicionais podem ser obtidas com Inês Iwashita (ineshita@usp.br), telefones (11) 3091-3919 e 3091-4442.
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Hernan Chaimovich** Há várias definições para biosseguridade. Dentre elas, apresento três: 1) uma forma de aumentar as medidas nacionais contra as armas biológicas; 2) uma forma de aumentar e fortalecer os esforços nacionais e internacionais para investigar se há ou não alguma doença que possa alterar o sistema social; 3) uma medida para aumentar a capacidade internacional de investigar e mitigar os efeitos do uso terrorista de toxinas e armas biológicas. As implicações de cada definição são totalmente diferentes para qualquer país que a use. Quando nós, brasileiros, pensamos em biosseguridade, temos que pensar sobretudo na segunda definição. Este um país seguro perante ameaças de doenças que possam afetar uma percentagem importante da população com menos defesa? Será que temos que pensar em biosseguridade quando pensamos em produção suína e nos problemas de doença animal existentes no campo? Ou no caso de produção de frango — uma parte importante da exportação nacional — soja ou laranja? Quando comparados com a definição de biosseguridade centrada no bioterrorismo, essas questões são ou não um problema para o país? Se o mundo tiver muita sorte teremos uma pandemia de influenza em cinco anos. Se não tivermos muita sorte, ela ocorrerá daqui a dois anos. Se realmente formos protegidos por uma força divina, não teremos essa pandemia — mas essa é uma probabilidade muito baixa. E, apesar de tudo que se sabe, a sociedade em geral — e a universidade em particular — aparentemente não está preocupada. Uma pandemia não se resume a um assunto específico de interesse exclusivo de especialistas em doenças infecciosas. Apresenta problemas como: que fazer na cidade de São Paulo com 100 mil doentes que precisam ser internados de uma semana para a outra? Qual é a velocidade da propagação da pandemia? O que fazer com o serviço de correio quando 30% do pessoal está doente? São problemas que a reflexão acadêmica não pode dispensar. Alguns lugares estão se preparando para responder a essas perguntas sobre biosseguridade. Na União Européia, por exemplo, está sendo implantado um centro de controle de doenças em Estocolmo. No Brasil existem intenções e grupos de trabalho preocupados com este problema no governo, mas vou discutir isso do ponto de vista acadêmico. Para aperfeiçoar hoje a vigilância da influenza animal é claro que os vetores do vírus H5N1 (que causa a gripe aviária), basicamente galinhas e patos, tem de ser analisados. Logicamente é preciso integrar a vigilância, a influenza humana e a influenza animal. A pergunta é se teremos tempo de fazer a vacina contra a cepa pandêmica. Essa não é uma questão simples e lembro que no Brasil a vacina é veiculada a partir de matéria prima importada e que a fábrica ficará pronta no ano que vêm, no Instituto Butantan. A questão é saber se teremos tempo de fazer a vacina certa a tempo — e a academia deve buscar uma resposta. Uma outra pergunta que precisa ser respondida tem a ver com questões relacionadas à pesquisa, produção e patentes. Existe apenas um antiviral medianamente efetivo contra a influenza. É produzido pela Roche, que não tem capacidade sequer de produzir vacina suficiente se a gripe vier daqui a um ano e meio ou dois. Se isso acontecer, o Brasil vai ter que decidir se quebra a patente, e não podemos pensar que isso seja um problema ético ou político, pois será um problema de sobrevivência de cerca de 6 milhões de brasileiros. Não podemos tomar a decisão de quebrar ou não a patente quando a pandemia já estiver instalada. Outros países, com base em modelos que estimam velocidades de instalação da pandemia, já estão estocando o antiviral. Mas não é só de doenças que se fala no mundo quando pensamos em biosseguridade. Embora as definições sejam basicamente políticas, do ponto de vista da ciência não há diferença alguma ao tratarmos de problemas ligados à influenza, à Aids ou ao bioterrorismo. O mundo científico foi acordado há dois anos com uma declaração publicada pelos editores da "Nature", junto com outros editores de revistas científicas. Os editores disseram que a preocupação com o bioterrorismo é legítima e que a responsabilidade tem que ser compartilhada. São os cientistas e as revistas que têm que considerar, no processo de revisão dos trabalhos, o problema de segurança. No caso do bioterrorismo e da publicação a responsabilidade última é do editor. Reconhece-se que o editor pode decidir que o benefício social de uma publicação pode ser menor que o risco de dano social e que, sob essa condição, o trabalho pode ser modificado ou rejeitado. Pode haver um abuso potencial de informação publicada, mas reconhece-se que a mesma informação permite a defesa contra o bioterrorismo. Essa contradição caracteriza a biologia na sua relação com a biosseguridade hoje. Há outras coisas acontecendo no mundo que merecem nossa atenção. Nos Estados Unidos foi estabelecido há alguns anos um Conselho Científico Consultivo Nacional para Biosseguridade, encarregado de formar um sistema institucional que permita o desenvolvimento de objetivos de pesquisas importantes, quando se trata de pensar em problemas de seguridade nacional, bem como fornecer referências para a identificação e para a conduta da pesquisa. E aqui entra a concepção de que seja possível combater o bioterrorismo por meio de normas éticas de conduta e destinação de dinheiro para educação da comunidade de pesquisadores sobre o problema. Em março deste ano aconteceu nos EUA uma conferência internacional sobre biosseguridade. Nesse encontro três temas identificaram as preocupações internacionais: Princípios e Referências; Disseminação e Comunicação de Resultados de Pesquisas; e Vigilância sobre Projetos de Pesquisa. Um dos participantes da conferência foi um especialista na área de informação sobre biosseguridade. As reflexões que apresentou foram motivadas por gravações de conversas entre terroristas, que não pensavam em bioterrorismo, mas começaram a fazê-lo porque os Estados Unidos preocupam-se muito com isso. Daí a necessidade de atenção ao problema. Por outro lado, aquilo que pode armá-los tem que ser de conhecimento aberto, pois isso permite a defesa. A academia tem que refletir sobre isso. Os benefícios da abertura da ciência e do acesso à informação são tão grandes que o controle torna-se custoso e inútil. Informação sensível existe, mas essa preocupação não pode restringir a apresentação de resultados de pesquisas fundamentais. A única forma de controle é fortalecer a postura das comunidades a partir de normas éticas. Outro problema no qual não houve consenso na conferência foi a distinção, quando se pensa em biosseguridade, entre ciência fundamental e as suas aplicações. Transformar uma bactéria ou um vírus numa arma é um processo tecnológico. A descoberta de uma bactéria ou um virus que possa matar não determina a capacidade de produzi-lo(a) ou a tecnologia que permite usá-lo(a). E o que pensam os acadêmicos sobre essas questões? Algumas universidades reagem. Stanford preocupa-se com o seguinte problema: como a produção científica vai ser afetada se os Estados Unidos restringirem a internacionalização da pesquisa? Stanford está pensando sobre o que pesquisar e em como distinguir informação aberta, informação sensível e informação secreta. Em Harvard já foram realizadas diversas conferências sobre biosseguridade e há várias bolsas para biólogos que trabalham nos institutos de relações internacionais. Ao mesmo tempo, as uniões internacionais de ciência como o ICSU (International Council for Science) afirmam, com absoluta clareza, que os cientistas hoje não podem mais se dedicar à procura de conhecimento sem reconhecer sua responsabilidade social. As academias de ciência também vêm se manifestando e usam alguns conceitos como o de consciência. O cientista tem que ter consciência das conseqüências possíveis de suas atividades. Outros conceitos que estão sendo usados são os de segurança, educação e informação. No fundo, as academias estão dizendo: vamos fazer um código de ética para tratar de biosseguridade. Em qualquer país que tenha uma plêiade de universidades de classe internacional, dá para entender que uma fique fora do debate, pois isso não configuraria um problema. Contudo, no Brasil, a ausência de uma única universidade dessa classe pode fazer uma imensa diferença. Estamos num momento em que a formulação de programas e políticas públicas na área de biosseguridade é uma responsabilidade a mais das universidades de classe internacional do País. (*) Este texto é baseado em trechos da conferência "Biosseguridade", feita pelo autor no IEA no dia 24 de agosto. A íntegra da apresentação será publicada na edição nº 55 da revista "Estudos Avançados", com lançamento previsto para dezembro. O vídeo da conferência pode ser assistido na midiateca online do IEA. (**) HERNAN CHAIMOVICH é diretor do Instituto de Química da USP e conselheiro do IEA.
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agenda |
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OUTUBRO • Dia 21, 15h — Simulação de Dano Dinâmico em Materiais com Gradação Funcional, conferência de Glaucio Paulino (Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA). • Dia 25, 17h — A Evolução do Regime Internacional de Mudança do Clima, conferência de Luiz Gylvan Meira Filho (IEA). NOVEMBRO •
Dia 7, 19h — Mesa-Redonda "Sartre
e a Literatura", comemorativa do centenário
de nascimento do escritor — conferêncista: Françoise
Gaillard, da Universidade de Paris 8; debatedores: Glória Carneiro
do Amaral e Leyla Perrone-Moisés, ambas do Nupebraf e da Área
de Língua e Literatura Francesa da FFLCH/USP. O evento terá
tradução simultânea e apoio do Serviço
Cultural da Embaixada Francesa no Brasil. •
Dias 6 a 10 — II
Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América
do Sul — realização da Área
de Ciências Ambientais do IEA.
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Notas |
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"Estudos Avançados" 54 terá lançamento em Belém O nº 54 da revista "Estudos Avançados", que contém o dossiê "Amazônia Brasileira II", terá lançamento na livraria do Museu Paraense Emílio Goeldi (Av. Magalhães Barata, 376, Parque Zoobotânico), em Belém, PA, no dia 3 de novembro, às 17h30. O convite para o lançamento foi feito por Ima Vieira, diretora do museu, que considera a iniciativa uma boa oportunidade para estreitamento ainda maior dos laços entre a instituição e o IEA. Ela e Peter Mann de Toledo, ex-diretor do museu, são autores de artigo publicado no dossiê. No lançamento oficial do nº 54, ocorrido no dia 10 de outubro, no IEA, Toledo fez palestra sobre "As Estratégias para Evitar a Perda de Biodiversidade na Amazônia", tema de artigo (em breve o vídeo da palestra estará disponível na midiateca online do IEA). No lançamento em Belém, a revista será representada por Dario Luis Borelli, editor assistente da publicação. Simulação de fratura em materiais especiais
Glaucio Paulino, professor da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA, faz no dia 21 de outubro, às 15h, no IEA, a conferência "Simulação de Dano Dinâmico em Materiais com Gradação Funcional". O evento é uma realização do Departamento de Mecatrônica e Sistemas Mecânicos da Escola Politécnica da USP, com apoio do IEA. Materiais com gradação funcional (que incluem nanocompósitos) são aqueles sujeitos a tensões variadas, como no caso do concreto utilizado em barragens, sujeito a movimentações do terreno. A apresentação de Paulino discutirá um ambiente multiescala integrado para a simulação do surgimento de fratura e sua propagação nesses materiais. Os testes numéricos utilizados no estudo do pesquisador incluem a comparação entre dano dinâmico de materiais desse tipo e materiais homogêneos convencionais. Segundo ele, algumas características dessas fraturas foram confirmadas por meio de resultados experimentais. A conferência também abordará o uso de estrutura de dados avançada, visualização, realidade virtual ("caverna" com projeções nos quatro lados e no teto) e computação de alto desempenho para simulação desse tipo de problema.
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UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO INSTITUTO
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