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Boletim
quinzenal do IEA/USP nº 58 16 a 31 de maio
de 2005 |
especial agenda
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NOTAS |
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LEMBRETE |
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temática semestral |
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IEA fará análise teórica para subsidiar estratégias e ações que consolidem a cultura de inovação na sociedade brasileira
"O único modo de se descobrir o que é filosofia é fazer filosofia", escreveu certa vez o filósofo inglês Bertrand Russell. É difícil imaginar que outras áreas do conhecimento podem se dar ao luxo de serem claramente definidas apenas por seus praticantes. E quando se trata da aplicação do conhecimento, isso é inimaginável, pois amplos setores sem vínculo direto com a utilização do saber precisam ter ao menos uma noção coerente sobre o que ela significa. Sem isso, torna-se difícil adotar políticas apropriadas e consensuais para que a aplicação seja eficaz, rotineira e recompensadora dos esforços empreendidos pela sociedade. Apesar dos inúmeros progressos do País no século 20 graças a soluções inovadoras - nem sempre reconhecidas como tal -, o tema da inovação ganhou força no Brasil apenas a partir dos anos 90. Desde então, várias iniciativas têm acontecido nos âmbitos governamental, empresarial e acadêmico. Muitas empresas direcionam seus esforços em busca da inovação, há programas de apoio e linhas de financiamento de projetos, prêmios para iniciativas, pesquisa freqüentes sobre o grau de inovação de empresas e setores produtivos e até uma Lei de Inovação. Ao mesmo tempo, muitas empresas praticam inovação sem o saber, demonstrando falta de envolvimento metódico com a busca de novas soluções, muitas outras permanecem reféns de mercados pouco dinâmicos, enquanto integrantes de várias áreas do saber, do mundo empresarial e do poder público têm dificuldade em entender o conceito de inovação ou o identificam erroneamente apenas como mais um mote gerencial da atualidade. E chega-se ao paradoxo de o povo brasileiro ser considerado extremamente empreendedor, devido à necessidade de garantir a sobrevivência, num País que não conta ainda com uma cultura da inovação sistêmica, orgânica, enraizada na sociedade. TEMÁTICA Diante da importância da consolidação dessa cultura para o desenvolvimento do Brasil e da necessidade de aprofundamento das análises teóricas sobre o tema, o Conselho Deliberativo do IEA escolheu a inovação tecnológica como assunto da segunda temática semestral do Instituto. A ênfase no aspecto tecnológico deve-se ao fato de a tecnologia ser a mais sistemática fonte de inovação, segundo o coordenador da temática, o economista João Furtado, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP e uma das maiores autoridades no assunto, que terá a colaboração do físico José Fernando Perez, do Instituto de Física da USP e ex-diretor científico da Fapesp. Furtado comenta que há inovações que não envolvem desenvolvimento tecnológico, mas, eventualmente, propiciam as condições necessárias para esse desenvolvimento. Por outro lado, "uma empresa pode ser bem sucedida com inovações pontuais de natureza não-tecnológica, mas não se pode contar com um golpe de sorte ou genialidade toda semana, por isso os esforços tecnológicos regulares são a fonte mais confiável de inovação". Mas os esforços tecnológicos não são suficientes, "por isso as empresas têm um departamento onde as pessoas buscam soluções e novidades, novos produtos e processos, e há as pessoas de marketing em outro departamento, que procuram não apenas encontrar saída para aquele desenvolvimento, mas também identificar no mercado necessidades para o pessoal de tecnologia, ou eventualmente ciência, satisfazer." SISTEMA No modelo convencional, a ciência é um grande estoque onde a tecnologia vai beber para depois alimentar o mercado com produtos e soluções. "A isso chamamos de modelo linear, um modelo que já se mostrou insuficiente para explicar como se dá a inovação tecnológica, pois com freqüência engenheiros resolvem problemas que os cientistas ainda não explicaram." Há um outro fator, segundo o economista: "Nas empresas, a tecnologia não é fruto apenas do desenvolvimento científico, mas também da percepção das pessoas que nela trabalham a partir das oportunidades existentes ou potenciais de mercado". Na verdade, a inovação envolve um complexo de relações que os estudiosos chamam de sistema de inovação, que se acredita ter dimensão nacional. Muitos dos desenvolvedores não estão respondendo a demandas de mercados existentes, estão descobrindo mercados inexplorados, destaca o coordenador da temática: "Grande parte das soluções inovadoras não são soluções para mercados já identificados, são soluções para problemas que ainda não se tornaram mercado. O inovador é sobretudo uma pessoa que cria mercados, não quem se subordina àqueles já existentes". Como exemplo da influência desse complexo de relações, Furtado lembra o fato de no final do século 19 e início do 20 a Alemanha ter realizado um grande avanço na química com uma inovação institucional: parou de reconhecer patentes de produtos, só reconhecia de processos. "Ao fazer isso, estimulou a descoberta de outras rotas para a produção de uma mesma substância. Esse é um exemplo de como uma ação governamental, componente de um sistema nacional de inovação, consegue retro-alimentar a tecnologia e a ciência." CULTURA No caso brasileiro, Furtado ressalta que nunca houve atividade econômica brasileira durável que não tenha se beneficiado de uma forte dose de inovação tecnológica. "Muito creditam o sucesso do café à terra roxa, mas esquecem o quanto houve de trabalho de pesquisadores e tecnólogos capacitados e motivados em instituições como o Instituto Agronômico de Campinas, que tem mais de 100 anos. A soja não dava no Brasil inteiro, dava num pedaço do Rio Grande do Sul. Foi a pesquisa que resolveu alguns problemas tecnológicos para que a expansão da cultura fosse viável." Há uma forte relação entre uma inovação sistêmica de efeitos limitados e a possibilidade de grandes inovações, "por isso não é tão importante apostar em coisas absolutamente avançadas, mas apostar nos esforços sistemáticos, regulares, que se auto-alimentem", comenta Furtado. "Quando se transforma a inovação em fenômeno de massa, estamos criando uma cultura através do qual o empresariado, o pessoal técnico e os operários são levados a refletir sobre o tema da mudança, do aperfeiçoamento, da possibilidade de ganhar mais servindo melhor ao mercado. E nisso não há nada de subordinação ao mercado. Todos querem um remédio mais útil, um serviço de transporte melhor, um alimento mais saudável. E há um momento nesse processo que a inovação e o consumidor podem ter um interesse comum."
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especial |
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Nos dias 30 de maio e 1º de junho, o IEA receberá a visita de dois renomados arqueólogos norte-americanos: George Gumerman, presidente interino da Escola de Pesquisa Americana e membro externo do Instituto Santa Fé, e Norman Yoffee, professor titular do Departamento de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Michigan. Os dois vieram ao Brasil para participar do seminário "Ciclos de Complexidade Social e Ambiental nas Terras Baixas da América Latina", de 24 a 28 de maio, em Santa Catarina, evento realizado com o apoio do Instituto Santa Fé (a expressão Terras Baixas é utilizada para especificar as regiões não-andinas).
No IEA, dia 30, às 17h, Gumerman fará conferência sobre "Complexidade e Paisagens Antropogênicas nas Terras Baixas da América Latina". A conferência de Yoffee, no dia 1º, às 13h, será sobre "As Primeiras Cidades e a Evolução da História". Os dois eventos serão em inglês. Gumerman é um renomado arqueólogo que se preocupa há mais de 30 anos com questões teóricas sobre complexidade e adaptação humana. Seu trabalho no Sudoeste dos Estados Unidos envolve pesquisas arqueológicas e modelagens e simulações computacionais para a compreensão da trajetória evolutiva das sociedades indígenas contemporâneas na região.
Yoffee é um dos grandes especialistas em estudos da civilização assíria, das culturas da Mesopotâmia, da arqueologia do Oriente Médio e de estudos comparativos das civilizações antigas (leia resenha sobre seu mais recente livro, Mythes of the Archaic State — Evolution of the Earliest Cities, States and Civilizations, publicada na edição de 20 de maio da revista "Science"). Mais: as duas conferências acontecem no Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA, Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, térreo, Edifício da Antiga Reitoria, Cidade Universitária, São Paulo, SP, (veja mapa); informações com Inês Iwashita (ineshita@usp.br), telefones (11) 3091-3919 e 3091-4442.
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agenda |
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MAIO • Dia 30, 17h — Complexity & Anthropogenic Landscapes in Lowland Latin America — conferência do arqueólogo George Gumerman (Escola de Pesquisa Americana e Instituto Santa Fé, EUA) • Dia 31, 15h — A Psicologia como uma Fábrica: Tradições em Vias de Mudança e Novos Desafios Epistemológicos — conferência do psicólogo Jaan Valsiner (Universidade Clark, EUA) JUNHO • Dia 1º, 13h — The Earliest Cities and the Evolution of History — conferência do arqueólogo Norman Yoffee (Universidade de Michigan, EUA) • Dia 6, 15h — A Política Brasileira de Meio Ambiente — conferência de Marcus Barros (presidente do Ibama) Mais: os eventos acontecem no Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA (veja mapa); informações: iea@usp.br, telefones (11) 3091-3919 e 3091-4442.
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Notas |
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O artigo Destinos da Ruralidade no Processo de Globalização, de José Eli da Veiga, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, publicado no nº 51 da revista "Estudos Avançados", venceu a segunda edição do Prêmio Milton Santos, concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Desenvolvimento Urbano e Regional (Anpur). A premiação aconteceu no dia 25 de maio, em Salvador (BA), com a presença do autor, durante o 11º Encontro Nacional da Anpur. Veiga fez o doutorado na Universidade de Paris I. Foi pesquisador visitante das Universidades de Londres, da Califórnia e de Paris. Secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável entre 2001 e 2002, Veiga foi também superintendente regional do Incra em São Paulo, diretor do Instituto de Assuntos Fundiários e coordenador socieconômico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Alguns dos seus livros são: "Do Global ao Local", "Desenvolvimento Sustentável", "A Face Rural do Desenvolvimento" e "O Desenvolvimento Agrícola, uma Visão Histórica". Luís Nassif é o novo conselheiro do IEA
O jornalista Luís Nassif foi nomeado pelo reitor da USP, Adolpho José Melfi, para o Conselho Deliberativo do IEA, na vaga destinada a representante da sociedade civil e anteriormente ocupada pelo cardeal d. Paulo Evaristo Arns. Formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Nassif é um dos jornalistas de economia mais influentes do País há muitos anos. Colunista e membro do Conselho Editorial do jornal "Folha de S.Paulo", comentarista da TV Cultura e presidente da Dinheiro Vivo Agência de Informações (responsável pelo Projeto Brasil), Nassif ganhou o Prêmio de Jornalismo de Economia de 2004 do "Comunique-se", site especializado em jornalismo, em votação realizada entre os próprios profissionais de imprensa.
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