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Psicóloga analisa a relação entre humilhação e direitos humanos |
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Nascida num ambiente fragmentado pela Segunda Guerra, “numa família sem lar, dispersa e traumatizada”, Lindner é doutora em medicina e psicologia, fundadora e presidente do fórum Human Dignity and Humiliation Studies (link) e da World Dignity University (link). Há 40 anos percorre o mundo desenvolvendo estudos sobre a dignidade humana em diversas instituições. De acordo com ela, a dinâmica da humilhação constitui o principal obstáculo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. No evento, que aconteceu no Centro Universitário Maria Antonia da USP, Lindner explicou como essa dinâmica funciona e se perpetua. Para isso, valeu-se de um esquema gráfico bastante simples formado por três linhas horizontais sobrepostas que simbolizam os níveis hierárquicos: a linha superior representa a elite, a intermediária, o estado de igualdade, e a inferior, os grupos oprimidos. Uma seta vertical descendente indica como se dá a dinâmica da humilhação: quem está topo rebaixa quem está na base; e uma seta vertical ascendente indica como o ciclo se renova: aqueles que eventualmente chegam ao topo passam a humilhar quem antes os rebaixava. “Foi o que aconteceu em Ruanda. As pessoas que estiveram na parte de baixo por séculos conseguiram subir, mas não pararam na linha intermediária, elas continuaram subindo e mataram. Vejam do que o sentimento de humilhação capaz”, destaca Lindner, fazendo referência ao genocídio ocorrido em 1994, quando os hutus, maioria étnica do país marcada por um histórico de opressão, conseguiram tomar o poder e dizimaram os tutsis, grupo minoritário que compunha a elite. LINHA DO MEIO Segundo a psicóloga, muitas pessoas ainda pensam em direitos humanos a partir desse paradigma de combate e revanchismo. "Mas, para que um novo ciclo de humilhação não recomece, quem sobe tem que parar na linha do meio. É preciso acabar com o lema de que se você quer paz, deve se preparar para a guerra", adverte. Para ela, a liderança exercida por Nelson Mandela no movimento contra o Apartheid serve de modelo para a verdadeira revolução dos direitos humanos, a partir da qual humilhantes e humilhados devem se unir da linha do meio, onde todos são iguais: "Mandela nasceu nas camadas mais baixas e conseguiu chegar ao topo. Quando isso aconteceu, fez com que seus irmãos negros subissem e com que os brancos descessem até a linha intermediária". Lindner trouxe o debate sobre a dinâmica da humilhação para a realidade brasileira ao falar sobre a Comissão da Verdade, que vai apurar violações aos direitos humanos no país de 1946 a 1988. Ela considera importante que no processo brasileiro evitem-se duas situações: a ideia de que ficar em paz com o passado implica destruir os documentos e esquecer o que passou; e o vício da vitimização, que surge quando as pessoas não se desapegam do passado e insistem em continuar na condição de vítimas, sem abrir brechas para a reconciliação. Realizada pela Cátedra Unesco de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, sediada no IEA, com apoio do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) e do Centro Universitário Maria Antonia, a conferência foi organizada por Sérgio Adorno, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e coordenador da Cátedra Unesco e do NEV, e mediada por Guilherme Assis de Almeida, da Faculdade de Direto. Foto: Sandra Codo/IEA-USP |