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20 de junho de 2012
DIREITOS HUMANOS
Psicóloga analisa a relação entre humilhação e direitos humanos

A psicóloga Evelin Lindner
"A humilhação é a única arma de destruição em massa que realmente possuímos. Esse sentimento é a bomba atômica das emoções".A metáfora, usada pela psicóloga alemã Evelin Lindner na conferência "Humilhação, Dignidade e Reconciliação na Agenda dos Direitos Humanos", no dia 1º de junho, ilustra o papel central da humilhação na explosão das diversas formas de violência, como terrorismo, guerras, genocídios ou mesmo práticas culturais que violam a dignidade.

Nascida num ambiente fragmentado pela Segunda Guerra, “numa família sem lar, dispersa e traumatizada”, Lindner é doutora em medicina e psicologia, fundadora e presidente do fórum Human Dignity and Humiliation Studies (link) e da World Dignity University (link). Há 40 anos percorre o mundo desenvolvendo estudos sobre a dignidade humana em diversas instituições. De acordo com ela, a dinâmica da humilhação constitui o principal obstáculo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

No evento, que aconteceu no Centro Universitário Maria Antonia da USP, Lindner explicou como essa dinâmica funciona e se perpetua. Para isso, valeu-se de um esquema gráfico bastante simples formado por três linhas horizontais sobrepostas que simbolizam os níveis hierárquicos: a linha superior representa a elite, a intermediária, o estado de igualdade, e a inferior, os grupos oprimidos. Uma seta vertical descendente indica como se dá a dinâmica da humilhação: quem está topo rebaixa quem está na base; e uma seta vertical ascendente indica como o ciclo se renova: aqueles que eventualmente chegam ao topo passam a humilhar quem antes os rebaixava.

“Foi o que aconteceu em Ruanda. As pessoas que estiveram na parte de baixo por séculos conseguiram subir, mas não pararam na linha intermediária, elas continuaram subindo e mataram. Vejam do que o sentimento de humilhação capaz”, destaca Lindner, fazendo referência ao genocídio ocorrido em 1994, quando os hutus, maioria étnica do país marcada por um histórico de opressão, conseguiram tomar o poder e dizimaram os tutsis, grupo minoritário que compunha a elite.

LINHA DO MEIO

Segundo a psicóloga, muitas pessoas ainda pensam em direitos humanos a partir desse paradigma de combate e revanchismo. "Mas, para que um novo ciclo de humilhação não recomece, quem sobe tem que parar na linha do meio. É preciso acabar com o lema de que se você quer paz, deve se preparar para a guerra", adverte.

Para ela, a liderança exercida por Nelson Mandela no movimento contra o Apartheid serve de modelo para a verdadeira revolução dos direitos humanos, a partir da qual humilhantes e humilhados devem se unir da linha do meio, onde todos são iguais: "Mandela nasceu nas camadas mais baixas e conseguiu chegar ao topo. Quando isso aconteceu, fez com que seus irmãos negros subissem e com que os brancos descessem até a linha intermediária".

Lindner trouxe o debate sobre a dinâmica da humilhação para a realidade brasileira ao falar sobre a Comissão da Verdade, que vai apurar violações aos direitos humanos no país de 1946 a 1988. Ela considera importante que no processo brasileiro evitem-se duas situações: a ideia de que ficar em paz com o passado implica destruir os documentos e esquecer o que passou; e o vício da vitimização, que surge quando as pessoas não se desapegam do passado e insistem em continuar na condição de vítimas, sem abrir brechas para a reconciliação.

Realizada pela Cátedra Unesco de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, sediada no IEA, com apoio do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) e do Centro Universitário Maria Antonia, a conferência foi organizada por Sérgio Adorno, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e coordenador da Cátedra Unesco e do NEV, e mediada por Guilherme Assis de Almeida, da Faculdade de Direto.

Foto: Sandra Codo/IEA-USP

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