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22 de novembro de 2012
O COMUM
SUSTENTABILIDADE
A energia eólica de vento em popa

Elbia Mello, José Eli da Veiga e Osvaldo Soliano Pereira
no debate de lançamento do livro "Energia Eólica"
O Plano Decenal de Expansão da Energia 2021 (PDE), documento do governo federal que define metas para o setor no período 2012-2021, não apresenta propostas substanciais para ampliação do parque eólico nacional. Mas isso não impede que a participação dessa fonte na matriz energética brasileira venha a aumentar além do previsto.  

Com essa observação, José Eli da Veiga (FEA e IRI) abriu a mesa-redonda O Lugar da Eólica no Planejamento Energético, da qual foi mediador. Realizado no dia 30 de outubro, no IEA, o debate marcou o lançamento do livro "Energia Eólica" (Editora Senac), organizado por Eli da Veiga. O evento contou com a participação de Osvaldo Soliano Pereira, diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudança do Clima (CBEM) e um dos autores do livro, e Elbia Mello, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Partindo da questão levantada por Eli da Veiga, Pereira afirmou que "o Brasil não tem uma política energética propriamente dita". O que o país tem, segundo ele, é uma estratégia de comprar energia de quem vende mais barato: "O que define a política é o preço da energia nos leilões, e fica ao sabor do mercado decidir o que vai ser oferecido e o que será mais barato".

Um momento promissor

Elbia Mello creditou a expansão da energia eólica a partir de 2009 a fatores estruturais e conjunturais.

FATORES ESTRUTURAIS

  • Progresso técnico: o aumento da altura e do diâmetro dos aerogeradores nos últimos anos elevou o fator de capacidade das usinas (razão entre a produtividade efetiva da usina e sua capacidade máxima).
  • Qualidade dos ventos: os ventos brasileiros são melhores que os europeus e os americanos. Essa vantagem comparativa possibilitou maior produtividade a custos mais baixos.
  • Modelo de leilões: o modelo de compra/venda de energia do país é bastante atrativo, pois envolve um contrato de 20 anos, o que garante renda fixa para um longo período. Além disso, estimula a competição, já que o critério utilizado é o menor preço por MW/hora gerado, enquanto em outros países, como no caso dos europeus, o critério é a eficiência, isto é, maior produção de MW/hora por quilômetro instalado.

FATORES CONJUNTURAIS

  • Crise econômica internacional: a Europa e os EUA foram os primeiros a desenvolver tecnologia para energias renováveis alternativas, entre elas a eólica. Após a crise de 2008, os investimentos no setor foram cortados e a indústria eólica ficou sem mercado. A solução foi se instalar no Brasil, onde o setor começava a despontar.
  • Falta de concorrência: os dois países que mais investem em energia eólica no mundo, China e Índia, utilizam apenas tecnologia nacional e não aceitam fabricantes estrangeiros. O Brasil, terceiro país que mais investe no setor, acabou sendo a alternativa mais conveniente para a indústria eólica europeia e americana;
  • Câmbio: em 2011, quando o valor do MW no Brasil chegou a R$ 100,00, a taxa de câmbio estava baixa. Isso permitiu a importação de equipamentos para produção de energia eólica a preços mais competitivos.

De acordo com ele, o que se pode é estimular a expansão de certas fontes através de leilões específicos, como o de energia eólica, realizado com sucesso em 2009. "Após três anos comprando energia de óleo combustível, descobrimos que, por uma série de fatores estruturais e conjunturais (veja ao lado), a eólica era mais barata."

Mello ressaltou que, nos últimos anos, o modelo de leilões tem favorecido o crescimento da eólica no país: "É o preço que faz o planejamento", comentou. "E o preço está levando à fonte eólica, uma fonte limpa, sustentável e renovável; mas não sabemos até quando isso vai acontecer".

EXPANSÃO
A energia eólica começou a ganhar espaço no Brasil em 2004, com a instituição do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), do governo federal. Criado para promover a diversificação da matriz energética brasileira, o programa destinou recursos para o aumento da participação da energia eólica, da biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas no Sistema Elétrico Interligado Nacional (Sein).

Segundo Mello, os incentivos rapidamente deram resultado e no leilão de 2009, o primeiro leilão sem subsídios, os preços mostraram-se bastante competitivos. "O leilão começou com um preço-teto da ordem de R$ 180,00 por MW e fechou a R$ 168,00", disse, ressaltando que em 2010 e 2011, o preço caiu para R$ 150,00 e R$100,00, respectivamente. "Não dá para imaginar a matriz sem a eólica, que hoje é a segunda mais competitiva", frisou.

E a tendência é que a participação da eólica na matriz energética brasileira continue crescendo. O PED prevê 9% de participação, com 16 GW instalados até 2012. Mas, de acordo com Mello, o número é outro: "Em 2020, teremos 20 GW, com 12% de participação". A explicação para isso, segundo ela, é que o planejamento está desenhado, só que o que entra na matriz é resultado dos leilões. "A energia eólica vai se manter e crescer." 

Pereira apresentou previsões para um prazo maior, mirando nos próximos 20 anos. "Trabalhamos com dois cenários: se a eólica crescer 10% ao ano, em 2035 teremos uma participação de 16 a 17%; se crescer 15%, podemos chegar a 30%", disse, lembrando que os cenários são esses, mas quem definirá o preço e a participação da eólica serão os leilões.

LIMITAÇÕES
Segundo Eli da Veiga, embora seja uma fonte sustentável e proporcione uma série de vantagens, a expansão da energia eólica esbarra em dois problemas principais: a degradação estética da paisagem causada pelas torres e a intermitência dos ventos. "Não é uma energia firme, não dá para imaginar uma matriz energética que tenha base na eólica, que é sempre complementar", disse.

Isso se mostra ainda mais importante quando se tem em mente que a matriz energética brasileira é hídrica e está sujeita à sazonalidade do regime de chuvas, de modo que aumentar demais a participação de outra fonte intermitente poderia comprometer o abastecimento. De acordo com Pereira, a usina de Sobradinho, no interior da Bahia, está operando com 25% da capacidade devido à longa estiagem deste ano: "Só não estamos passando por um racionamento de energia porque as termelétricas estão em funcionamento 24h por dia, queimando óleo diesel, o pior combustível em taxas de emissão".

Ele afirmou que, com a tecnologia que temos hoje, o nível de penetração da eólica não pode ultrapassar os 30%. Caso contrário, seria preciso fazer muito reserva de outra fonte para garantir o abastecimento. "O desafio é estudar mais a complementaridade das fontes intermitentes e, a partir daí, trabalhar o armazenamento da energia eólica, pois o sistema que temos atualmente é caro e ineficiente", concluiu.

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