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Boletim
do IEA/USP — nº 84 2ª quinzena de agosto de 2006 |
arte • A música nas relações entre Brasil e Portugal ambiente agenda | |
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Em 1765, o Marquês de Pombal nomeou D. Luis António de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus (título nobiliárquico português), governador da Província de São Paulo, recém-restabelecida. Os objetivos administrativos eram claros: expandir o território, desenvolver as atividades econômicas, reforçar a hierarquia social, ampliar as elites locais e intensificar os laços com a monarquia portuguesa. O novo governador acreditava na necessidade de aplicar à São Paulo colonial os mesmos modelos que caracterizavam a vida cultural e artística da corte de Lisboa e de promover práticas culturais, tanto na esfera profana quanto na sagrada, que reforçassem a ordem social e política corporizada no modelo do Despotismo Iluminado, em geral, e no seu próprio papel como administrador colonial. A música foi uma das prioridades do Morgado de Mateus, que reuniu um conjunto permanente de cantores e instrumentistas baseado no modelo da Capela Real de Lisboa, para que tocassem tanto nas cerimônias religiosas quanto nos espetáculos do novo Teatro de Ópera, que criara em seu próprio palácio. Alguns dos músicos eram profissionais contratados em outras cidades brasileiras, outros eram mulatos e índios treinados em São Paulo. A utilização da música nesse contexto será tratada pelo musicólogo português Rui Vieira Nery na conferência "A Música na Estratégia Colonial Iluminista: o Morgado de Mateus em São Paulo (1765-1774)", dia 28 de agosto, às 15h. Segundo Nery, os diários do governador fornecem "um retrato fascinante desse campo multifacetado de atividades musicais patrocinadas pelo Poder". ORIGENS DO FADO No dia 29 de agosto, às 15h, Nery fará outra conferência: "O Fado: da Dança Afro-Brasileira à Saudade Portuguesa". O musicólogo explica que a história do fado português é um longo processo de trocas interculturais: "No contexto multicultural do Brasil colonial, os ritmos e os padrões de dança africanos combinam-se com as harmonias e as formas européias para gerar uma dança cantada de forte sensualidade. Essa música atravessa o Atlântico e se implanta nos bairros populares do porto de Lisboa". De acordo com Nery, a interação entre o modelo brasileiro e as tradições locais da canção portuguesa levaram gradualmente ao desaparecimento do elemento de dança e à atenuação do ritmo sincopado original, que deram lugar a uma atmosfera nostálgica e lamentatória, com um forte rubato (alteração do tempo) na declamação do poema. "Quando a aristocracia boêmia e as classe médias urbanas 'redescobriram' o gênero, nas décadas de 1860 e 70, o fado passou a ter lugar no teatro musical ligeiro, começou a ser publicado em edições de folhetos para uso doméstico e acabou por se tornar um dos gêneros favoritos da indústria fonográfica nascente. Ao mesmo tempo, no seu contexto original operário, o fado foi usado como uma canção de luta associada ao arranque do movimento sindical e socialista.” A segunda conferência será seguida do lançamento do volume 11 (2006) da revista "Música", editada pelo Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP. José Eduardo Martins, professor do mesmo departamento, será o debatedor nos dois eventos. PERFIL Professor associado do Departamento de Artes da Universidade de Évora e diretor adjunto do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, Nery foi secretário da Cultura de Portugal e professor do Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa. Iniciou seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília e prosseguiu-os no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciou-se em história pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutourou-se em musicologia pela Universidade do Texas em Austin, EUA. Os temas de pesquisa de Nery incluem a problemática do Maneirismo e do Barroco na música ibérica e latino-americana e os processos de interpenetração cultural na música portuguesa, do vilancico (gênero de canção do século 16) à modinha e ao fado. Atualmente trabalha num estudo de fundo sobre a vida musical luso-brasileira, na ótica dos viajantes estrangeiros do final do Antigo Regime (1750-1834), e em diversos projetos de edição de música portuguesa dos séculos 16 a 18. É autor de vários estudos sobre história da música portuguesa bem como de largo número de artigos científicos publicados em revistas e obras coletivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais. Exerce também intensa atividade como conferencista em Portugal, em outros países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. É autor de "Para uma História do Fado" (2004) e dos capítulos sobre Portugal, Espanha e América Latina na "History of Baroque Music", de George Buelow (2004). Local: Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA (mapa).
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ambiente Os novos livros de Aziz Ab'Sáber e Jacques Marcovitch |
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Aziz Ab'Sáber e Jacques Marcovitch são os autores de dois lançamentos deste mês: "Escritos Ecológicos", de Ab'Sáber, inaugura a coleção "Idéias à Mão" da Lazuli Editora e Companhia Editora Nacional; "Para Mudar o Futuro — Mudanças Climáticas, Políticas Públicas e Estratégias Empresariais ", de Marcovitch, é uma co-edição Edusp e Editora Saraiva. ECOLOGIA Em "Escritos Ecológicos" (186 páginas, R$ 12,00), Ab'Sáber revela sua indignação diante da complexa e desequilibrada realidade brasileira e apresenta reflexões atuais acerca de problemas causados pelos desmandos contra a natureza. Geógrafo e ecologista militante, Ab'Sáber é considerado um dos maiores geomorfologistas brasileiros. É professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e professor honorário do IEA, onde atua desde 1990. Ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ab'Sáber foi contemplado em duas ocasiões (1997 e 2005) com o Prêmio Jabuti para Melhor Livro de Ciências Humanas. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Marcovitch concebeu o livro "Mudar o Futuro" (366 páginas, R$ 60,00) a partir de fevereiro de 2005, início da vigência do Protocolo de Kyoto: "Um acordo saiu do papel e veio à tona do cotidiano. Conciliam-se, na questão do aquecimento global, não apenas interesses nacionais que se antagonizavam, mas antigas pendências de atores como cientistas, empresários, governos e ambientalistas". No livro, ele procura reconstituir esses conflitos e, ao mesmo tempo, chegar a uma visão brasileira dos problemas, para levar ao leitor um relato do que é dito e feito no Brasil e no mundo sobre "a mitigação dos gases de efeito estufa e suas conseqüências climáticas para o planeta". Colaborador do IEA, do qual já foi diretor, e docente do curso de Relações Internacionais da USP, Marcovitch foi diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, reitor da universidade e secretário de Planejamento do Estado de São Paulo. Informações: sobre o livro "Escritos Ecológicos", de Aziz Ab'Sáber: Lazuli Editora, telefone (11) 3819-6077; sobre o livro "Para Mudar o Futuro", de Jacques Marcovitch: Editora Saraiva, telefone (11) 3613-3075.
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AGOSTO • Dia 24, 15h — Tecnociências e Humanidades — Conferência de Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa e Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. • Dia 28, 15h — A Música na Estratégia Colonial Iluminista: SETEMBRO Dia 21, 14h – América do Sul: Integração, Geoestratégia e Segurança NOVEMBRO Dia 13, 15h – Kafka, Sonhador Insubmisso — Conferência de Michael Löwy, da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, França. LOCAL: os eventos acontecem Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA, Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, térreo, Edifício da Antiga Reitoria, Cidade Universitária, São Paulo (mapa).
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Notas |
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Criado mais um observatório: 'Ensino Superior' No dia 21 de agosto, o site IEA inaugurou o Observatório "Ensino Superior". Nele estão reunidas reflexões sobre diversos aspectos do sistema brasileiro, propostas para sua reformulação e aprimoramento, estudos comparativos e análises de abrangência internacional relevantes para a compreensão das transformações necessárias. O acervo inclui artigos publicados na revista "Estudos Avançados", textos ligados ao ciclo "Os Desafios do Ensino Superior no Brasil" e outras contribuições, além de vídeos de conferências e seminários organizados pelo IEA. O endereço do observatório é www.iea.usp.br/observatorios/ensinosuperior. (Conheça também o Observatório O Brasil no Futuro.) Gabriel Cohn agora integra o Conselho Deliberativo do IEA O sociólogo Gabriel Cohn, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP é o novo integrante do Conselho Deliberativo do IEA. Cohn foi escolhido para a vaga pela reitora Suely Vilela. Doutor em sociologia pela FFLCH, onde é professor titular do Departamento de Ciência Política, Cohn tem como área de atuação a teoria política contemporânea e clássica. Suas linhas de pesquisa são teoria política, teoria política normativa e teorias de ação. É presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e autor dos livros "Petróleo e Nacionalismo" (1968), "Sociologia da Comunicação — Teoria e Ideologia" (1973) e "Crítica e Resignação — Max Weber e a Teoria Social " (1979, com nova edição revista publicada em 2003). |
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