O IEAPESQUISADORESGRUPOS
CÁTEDRASREVISTA BOLETIM
EVENTOSAO VIVOVÍDEOSTEXTOS

fale conoscoimprensaenglish
    
   

Boletim do IEA/USP — nº 115 — maio de 2008

                              
                           

   
    DEBATE
Os desafios da politica externa brasileira

    MIDIATECA
Vídeos dos eventos recentes já estão disponíveis
    

     NOTA
• Henrique Schützer Del Nero (1959-2008), estimulador de ciência cognitiva

Edições anteriores: www.iea.usp.br/contato
Solicite cadastro pelo e-mail
boletim-iea@usp.br
   
DEBATE
Os desafios da política externa brasileira

     

As prioridades da política externa brasileira devem estar relacionadas com o enfrentamento dos desafios nacionais (disparidades sociais; vulnerabilidades políticas e econômicas no âmbito internacional) e com a concretização das potencialidades do país. Essa diretriz é defendida pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores.


Debate reuniu Luiz Carlos Bresser-Pereira,
Laura Greenhalgh, Samuel Pinheiro Guimarães,
Marco Antônio Coelho (coordenador),
Eliane Cantanhêde e Fábio Wanderley Reis

Segundo o embaixador, para que a política externa do país propicie esses resultados, o Brasil precisa enfrentar as circunstâncias do sistema internacional e empenhar-se para que as normas desse sistema lhe sejam mais favoráveis.

Guimarães apresentou sua avaliação no "Debate sobre a Política Externa Brasileira", no dia 8 de maio, evento que marcou o lançamento da edição 62 da revista "Estudos Avançados". A edição traz o dossiê "Nação, Nacionalismo", do qual Guimarães participa.

Os outros debatedores foram Fábio Wanderley Reis (UFMG) e Luiz Carlos Bresser-Pereira (FGV-SP), que também contribuíram com o dossiê, e as jornalistas Eliane Cantanhêde ("Folha de S.Paulo") e Laura Greenhalgh ("O Estado de S.Paulo"). O coordenador foi o jornalista Marco Antônio Coelho, editor executivo de "Estudos Avançados".

Guimarães disse que a ampla normatização em várias áreas internacionais deve-se ao interesse dos países altamente desenvolvidos em manter seus privilégios, obtidos graças à concentração de poderes que detêm há muito tempo em termos militares, econômicos, políticos e ideológicos.

Do ponto de vista geográfico, o embaixador considera a América do Sul a primeira prioridade. "Para as negociações internacionais, é importante a atuação em conjunto com os dez países vizinhos". Além disso, avalia que a integração econômica sul-americana possibilita maior dinamismo à indústria brasileira, contribuindo para a inserção internacional do país.

A segunda prioridade geográfica é a África: "São 53 países, o que torna o continente um aliado importante nas tratativas internacionais. O Brasil pode atuar em vários países com a sua experiência em áreas como infra-estrutura, mineração e agricultura".

Fábio Wanderley Reis também vê a política externa vinculada à diminuição dos problemas sociais do país: "A questão nacional no Brasil é antes de tudo a questão social e a ação da política externa se justifica desde que apresente conseqüências reais para a redução das desigualdades sociais".

ESTADOS NACIONAIS

Reis disse que uma das características atuais é a falta de correspondência entre a dinâmica dos mercados e a dinâmica dos recursos políticos e territoriais. Por isso considera indispensável a construção de algo que possa ser visto como uma governança efetiva e democrática no plano internacional, e "os estados nacionais, apesar de suas fragilidades, são o recurso por excelência para o esforço de construção institucional dos instrumentos dessa governança".

Há sinais de uma ação positiva nesse sentido em certos procedimentos do governo brasileiro, na opinião de Reis, que citou como exemplo a atuação do país no Grupo dos 20 (países em desenvolvimento com propostas conjuntas para as negociações agrícolas).

Luiz Carlos Bresser-Pereira também concorda com a relevância do estado nacional na atualidade: "A globalização é o estágio do capitalismo em que o estado-nação se torna ainda mais importante do que antes".

Bresser-Pereira afirmou que o grande aumento da interdependência provocado pela globalização é ocasionado pela crescente competição entre os países. Portanto, "nada mais estratégico para cada país do que constituir-se num estado-nação capaz de formular uma estratégia nacional de desenvolvimento e competitividade".

Na sua opinião, "o Brasil precisa urgentemente de uma síntese das idéias de nação e desenvolvimento, vigentes até os anos 60, com as idéias de democracia e justiça social que vieram depois, síntese necessária para que o país possa competir e cooperar internacionalmente."

AMÉRICA DO SUL

As jornalistas participantes do debate apresentaram algumas questões ao secretário-geral do Itamaraty. Eliane Cantanhêde lhe perguntou sobre o posicionamento brasileiro em relação às perspectivas para a Bolívia a partir do movimento de autonomia do departamento de Santa Cruz, às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ao papel da Venezuela no Mercosul, Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e no Conselho Sul-Americano de Defesa.

Guimarães disse acreditar que o governo central boliviano entrará em entendimento com os demais departamentos do país e que não vê nenhuma possibilidade de um processo de secessão na Bolívia: "Acompanhamos esses fatos com muita atenção e cuidado, diariamente, mas isso é uma questão interna da Bolívia".

Em relação às Farc, Guimarães disse que o Brasil também considera a guerrilha dentro do território da Colômbia uma questão interna daquele país. "Naturalmente, o governo brasileiro tem relações com o governo colombiano, não com as Farc, e defende a integridade do território colombiano", comentou.

Quanto à Venezuela, o embaixador não vê nenhum risco de uma atuação destoante daquele país nos blocos e organismos regionais, mesmo com a aquisição de novos armamentos: "As aquisições aconteceram por causa das dificuldades que o país encontrou para a reposição de peças dos aviões F-16 norte-americanos e por isso comprou outros aviões". Guimarães disse que o Brasil não se preocupa quando países da região compram armamentos, pois "não sofremos nenhuma ameaça no plano militar".

O embaixador enfatizou que dentro do Mercosul, a Venezuela será apenas um dos participantes: "Ninguém pode mudar as regras unilateralmente e não importa se o país tem mais ou menos armamentos ou determinada orientação política".

Guimarães destacou que o Brasil tem um superávit comercial com a Venezuela de 4,3 bilhões de dólares, inferior apenas ao de 9 bilhões de dólares que tem com os EUA. "A Venezuela é um país rico, mas que não é desenvolvido do ponto de vista industrial, agrícola, da pecuária e da infra-estrutura, pois a economia foi toda dominada pelo petróleo. Há o interesse em desenvolver esses setores e as empresas brasileiras tem se beneficiado de forma significativa das relações que o Brasil mantém com o governo venezuelano."

Laura Greenhalgh comentou o contexto internacional e as perspectivas para a defesa dos interesses nacionais. Em pergunta a Guimarães vinculou o nacionalismo à existência de um projeto nacional: "Se o nacionalismo se prende a uma idéia primordial de nação, conclui-se que é também um projeto de adesão, que atrai pessoas, mentalidades, expectativas. O que podemos imaginar em termos de nacionalismo brasileiro se não sabemos qual é o projeto deste país?"

Guimarães respondeu que todo governo tem um projeto, que pode ser mais ou menos explícito: "Acho que temos um projeto nacional, ainda não muito definido. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma demonstração disso. Há certamente um projeto nacional para a área social, educação e investimentos e agora, com o PAC, para a infra-estrutura".

• Assista ao vídeo do debate na seção Relações Internacionais da Midiateca Online do IEA: www.iea.usp.br/iea/online/midiateca/relinter.
• Leia os artigos de Samuel Pinheiro Guimarães, Fábio Wanderley Reis e Luiz Carlos Bresser-Pereira publicados no dossiê "Nação, Nacionalismo" da edição 62 da revista "Estudos Avançados".

          

    

MIDIATECA
Vídeos dos eventos recentes já estão disponíveis

     

Os vídeos dos eventos "Os Desafios da Inovação no Brasil e as Estratégias de 7 Países", "As Transformações Recentes do Ensino Superior" e "Debate sobre a Política Externa Brasileira" já estão na Midiateca Online do IEA e podem ser assistidos a qualquer momento por todos os interessados.

INOVAÇÃO


Glauco Arbix durante apresentação sobre a Mobit

O seminário "Os Desafios da Inovação no Brasil e as Estratégias de 7 Países" aconteceu no dia 25 de abril. Nele foram debatidos os principais resultados da pesquisa "Mobilização Brasileira para a Inovação" (Mobit), um estudo comparativo de políticas industriais de base tecnológica dos EUA, França, Canadá, Irlanda, Reino Unido, Finlândia, Japão e Brasil. O trabalho foi encomendado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) ao Observatório da Inovação e Competitividade (sediado no IEA) e executado por equipe do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

O encontro teve apresentações de Evandro Mirra, diretor da ABDI, e Glauco Arbix, coordenador-geral do observatório, que apresentou os resultados da Mobit. A segunda parte foi um debate com a participação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, David Kupfer, professor do Instituto de Economia e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ, e Mario Salerno, coordenador executivo do observatório.

O evento foi realizado pelo IEA, Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, ABDI e Prospectiva Consultoria, com apoio do Cebrap, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Observatório da Inovação e Competitividade é uma parceria entre o IEA, ABDI, CGEE e Ipea. O vídeo do seminário está na seção Inovação Tecnológica da Midiateca Online.

PÓS-GRADUAÇÃO

Na conferência "As Transformações Recentes do Ensino Superior" (30 de abril), a cientista política Elizabeth Balbachevsky, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, apresentou resultados iniciais da pesquisa "Evolução Recente da Profissão Acadêmica no Brasil: uma Análise Comparada", trabalho que propiciou o ingresso brasileiro no projeto "The Shifting Boundaries of the Changing Academic Profession" (Projeto CAP, As Fronteiras em Mudança da Profissão Acadêmica), desenvolvido por uma rede de instituições de 20 países.

O evento fez parte do Ciclo "Formação Universitária: como Preparar o Brasil para o Futuro?". Os debatedores foram Eunice Durham (Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP) e Renato Pedrosa (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp). O vídeo com a conferência de Balbachevsky está na seção Universidade da Midiateca Online.

POLÍTICA EXTERNA

O "Debate sobre a Política Externa Brasileira" (leia nota acima) aconteceu no lançamento da edição 62 da revista "Estudos Avançados", no dia 8 de maio. O vídeo está na seção Relações Internacionais da Midiateca Online.

        

    

NOTA

 

Henrique Schützer Del Nero (1959-2008),
estimulador da ciência cognitiva


Del Nero, carreira  interdisciplinar

O psiquiatra Henrique Schützer Del Nero, fundador e coordenador do Grupo de Ciência Cognitiva do IEA nos anos 90, morreu no dia 9 de maio, aos 48 anos, vítima de infarto.

Nos últimos dez anos, Del Nero era professor do programa de pós-graduação do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, onde atuava no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ciência Cognitiva, que criou e coordenou de 2003 a 2005.

Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP, era também bacharel e mestre em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e doutor em engenharia de sistemas pela Escola Politécnica. Em 2000, foi professor visitante na Escola de Medicina da Universidade de Nova York.

Pesquisador com múltiplos interesses, manteve em paralelo à sua carreira como psiquiatra uma dedicação voluntária a atividades acadêmicas na USP a partir de 1990, quando fundou o Grupo de Ciência Cognitiva do IEA, que coordenou até 1997. Após o encerramento do grupo, fundou o núcleo na Escola Politécnica.

O grupo e o núcleo sempre tiveram composição interdisciplinar, a exemplo do perfil intelectual de Del Nero, com a participação de pesquisadores e profissionais de áreas como computação, biociências, psicologia, filosofia, engenharia, direito, economia e comunicação.

Escreveu três livros: "O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano" (1997), "O Equilíbrio Necessário" (1998) e "Anarquia e Alucinações" (1982). Foi autor também de quatro capítulos de livros, 15 artigos científicos e dezenas de artigos para a imprensa.

Del Nero era casado com a psiquiatra Lúcia Maciel e pai de quatro filhos.

    

  
 

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitora: Suely Vilela
Vice-Reitor: Franco Maria Lajolo
www.usp.br

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS

Diretor: César Ades
Vice-Diretor: Hernan Chaimovich
Conselho Deliberativo: Bader Sawaia, Carlos Henrique de Mesquita, César Ades, Gabriel Cohn, Hernan Chaimovich, João Fernando Gomes de Oliveira, João Stenghel Morgante
e Julio Marcos Filho
www.iea.usp.br iea@usp.br

contato,
Boletim quinzenal produzido pela Assessoria de Imprensa do IEA
www.iea.usp.br/contato
Editor: Mauro Bellesa (MTb-SP 12.739)
boletim-iea@usp.br
Endereço: Av. Prof. Luciano Gualberto, Travesa J, 374, térreo, Edifício da Antiga Reitoria, Cidade Universitária, Caixa Postal 72.012, CEP 05508-970, São Paulo, SP
Telefone: (11) 3091-1692
Fotos: Mauro Bellesa/IEA-USP

Para cancelar o envio, escreva "Retirar" no "Assunto" da resposta.