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Boletim do IEA/USP — nº 115 maio de 2008
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DEBATE Os desafios da política externa brasileira |
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As prioridades da política externa brasileira devem estar relacionadas com o enfrentamento dos desafios nacionais (disparidades sociais; vulnerabilidades políticas e econômicas no âmbito internacional) e com a concretização das potencialidades do país. Essa diretriz é defendida pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores.
Segundo o embaixador, para que a política externa do país propicie esses resultados, o Brasil precisa enfrentar as circunstâncias do sistema internacional e empenhar-se para que as normas desse sistema lhe sejam mais favoráveis. Guimarães apresentou sua avaliação no "Debate sobre a Política Externa Brasileira", no dia 8 de maio, evento que marcou o lançamento da edição 62 da revista "Estudos Avançados". A edição traz o dossiê "Nação, Nacionalismo", do qual Guimarães participa. Os outros debatedores foram Fábio Wanderley Reis (UFMG) e Luiz Carlos Bresser-Pereira (FGV-SP), que também contribuíram com o dossiê, e as jornalistas Eliane Cantanhêde ("Folha de S.Paulo") e Laura Greenhalgh ("O Estado de S.Paulo"). O coordenador foi o jornalista Marco Antônio Coelho, editor executivo de "Estudos Avançados". Guimarães disse que a ampla normatização em várias áreas internacionais deve-se ao interesse dos países altamente desenvolvidos em manter seus privilégios, obtidos graças à concentração de poderes que detêm há muito tempo em termos militares, econômicos, políticos e ideológicos. Do ponto de vista geográfico, o embaixador considera a América do Sul a primeira prioridade. "Para as negociações internacionais, é importante a atuação em conjunto com os dez países vizinhos". Além disso, avalia que a integração econômica sul-americana possibilita maior dinamismo à indústria brasileira, contribuindo para a inserção internacional do país. A segunda prioridade geográfica é a África: "São 53 países, o que torna o continente um aliado importante nas tratativas internacionais. O Brasil pode atuar em vários países com a sua experiência em áreas como infra-estrutura, mineração e agricultura". Fábio Wanderley Reis também vê a política externa vinculada à diminuição dos problemas sociais do país: "A questão nacional no Brasil é antes de tudo a questão social e a ação da política externa se justifica desde que apresente conseqüências reais para a redução das desigualdades sociais". ESTADOS NACIONAIS Reis disse que uma das características atuais é a falta de correspondência entre a dinâmica dos mercados e a dinâmica dos recursos políticos e territoriais. Por isso considera indispensável a construção de algo que possa ser visto como uma governança efetiva e democrática no plano internacional, e "os estados nacionais, apesar de suas fragilidades, são o recurso por excelência para o esforço de construção institucional dos instrumentos dessa governança". Há sinais de uma ação positiva nesse sentido em certos procedimentos do governo brasileiro, na opinião de Reis, que citou como exemplo a atuação do país no Grupo dos 20 (países em desenvolvimento com propostas conjuntas para as negociações agrícolas). Luiz Carlos Bresser-Pereira também concorda com a relevância do estado nacional na atualidade: "A globalização é o estágio do capitalismo em que o estado-nação se torna ainda mais importante do que antes". Bresser-Pereira afirmou que o grande aumento da interdependência provocado pela globalização é ocasionado pela crescente competição entre os países. Portanto, "nada mais estratégico para cada país do que constituir-se num estado-nação capaz de formular uma estratégia nacional de desenvolvimento e competitividade". Na sua opinião, "o Brasil precisa urgentemente de uma síntese das idéias de nação e desenvolvimento, vigentes até os anos 60, com as idéias de democracia e justiça social que vieram depois, síntese necessária para que o país possa competir e cooperar internacionalmente." AMÉRICA DO SUL As jornalistas participantes do debate apresentaram algumas questões ao secretário-geral do Itamaraty. Eliane Cantanhêde lhe perguntou sobre o posicionamento brasileiro em relação às perspectivas para a Bolívia a partir do movimento de autonomia do departamento de Santa Cruz, às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ao papel da Venezuela no Mercosul, Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e no Conselho Sul-Americano de Defesa. Guimarães disse acreditar que o governo central boliviano entrará em entendimento com os demais departamentos do país e que não vê nenhuma possibilidade de um processo de secessão na Bolívia: "Acompanhamos esses fatos com muita atenção e cuidado, diariamente, mas isso é uma questão interna da Bolívia". Em relação às Farc, Guimarães disse que o Brasil também considera a guerrilha dentro do território da Colômbia uma questão interna daquele país. "Naturalmente, o governo brasileiro tem relações com o governo colombiano, não com as Farc, e defende a integridade do território colombiano", comentou. Quanto à Venezuela, o embaixador não vê nenhum risco de uma atuação destoante daquele país nos blocos e organismos regionais, mesmo com a aquisição de novos armamentos: "As aquisições aconteceram por causa das dificuldades que o país encontrou para a reposição de peças dos aviões F-16 norte-americanos e por isso comprou outros aviões". Guimarães disse que o Brasil não se preocupa quando países da região compram armamentos, pois "não sofremos nenhuma ameaça no plano militar". O embaixador enfatizou que dentro do Mercosul, a Venezuela será apenas um dos participantes: "Ninguém pode mudar as regras unilateralmente e não importa se o país tem mais ou menos armamentos ou determinada orientação política". Guimarães destacou que o Brasil tem um superávit comercial com a Venezuela de 4,3 bilhões de dólares, inferior apenas ao de 9 bilhões de dólares que tem com os EUA. "A Venezuela é um país rico, mas que não é desenvolvido do ponto de vista industrial, agrícola, da pecuária e da infra-estrutura, pois a economia foi toda dominada pelo petróleo. Há o interesse em desenvolver esses setores e as empresas brasileiras tem se beneficiado de forma significativa das relações que o Brasil mantém com o governo venezuelano." Laura Greenhalgh comentou o contexto internacional e as perspectivas para a defesa dos interesses nacionais. Em pergunta a Guimarães vinculou o nacionalismo à existência de um projeto nacional: "Se o nacionalismo se prende a uma idéia primordial de nação, conclui-se que é também um projeto de adesão, que atrai pessoas, mentalidades, expectativas. O que podemos imaginar em termos de nacionalismo brasileiro se não sabemos qual é o projeto deste país?" Guimarães respondeu que todo governo tem um projeto, que pode ser mais ou menos explícito: "Acho que temos um projeto nacional, ainda não muito definido. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma demonstração disso. Há certamente um projeto nacional para a área social, educação e investimentos e agora, com o PAC, para a infra-estrutura". • Assista ao vídeo do debate na seção Relações Internacionais da Midiateca Online do IEA: www.iea.usp.br/iea/online/midiateca/relinter.
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Os vídeos dos eventos "Os Desafios da Inovação no Brasil e as Estratégias de 7 Países", "As Transformações Recentes do Ensino Superior" e "Debate sobre a Política Externa Brasileira" já estão na Midiateca Online do IEA e podem ser assistidos a qualquer momento por todos os interessados. INOVAÇÃO
O seminário "Os Desafios da Inovação no Brasil e as Estratégias de 7 Países" aconteceu no dia 25 de abril. Nele foram debatidos os principais resultados da pesquisa "Mobilização Brasileira para a Inovação" (Mobit), um estudo comparativo de políticas industriais de base tecnológica dos EUA, França, Canadá, Irlanda, Reino Unido, Finlândia, Japão e Brasil. O trabalho foi encomendado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) ao Observatório da Inovação e Competitividade (sediado no IEA) e executado por equipe do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O encontro teve apresentações de Evandro Mirra, diretor da ABDI, e Glauco Arbix, coordenador-geral do observatório, que apresentou os resultados da Mobit. A segunda parte foi um debate com a participação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, David Kupfer, professor do Instituto de Economia e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ, e Mario Salerno, coordenador executivo do observatório. O evento foi realizado pelo IEA, Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, ABDI e Prospectiva Consultoria, com apoio do Cebrap, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Observatório da Inovação e Competitividade é uma parceria entre o IEA, ABDI, CGEE e Ipea. O vídeo do seminário está na seção Inovação Tecnológica da Midiateca Online. PÓS-GRADUAÇÃO Na conferência "As Transformações Recentes do Ensino Superior" (30 de abril), a cientista política Elizabeth Balbachevsky, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, apresentou resultados iniciais da pesquisa "Evolução Recente da Profissão Acadêmica no Brasil: uma Análise Comparada", trabalho que propiciou o ingresso brasileiro no projeto "The Shifting Boundaries of the Changing Academic Profession" (Projeto CAP, As Fronteiras em Mudança da Profissão Acadêmica), desenvolvido por uma rede de instituições de 20 países. O evento fez parte do Ciclo "Formação Universitária: como Preparar o Brasil para o Futuro?". Os debatedores foram Eunice Durham (Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP) e Renato Pedrosa (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp). O vídeo com a conferência de Balbachevsky está na seção Universidade da Midiateca Online. POLÍTICA EXTERNA O "Debate sobre a Política Externa Brasileira" (leia nota acima) aconteceu no lançamento da edição 62 da revista "Estudos Avançados", no dia 8 de maio. O vídeo está na seção Relações Internacionais da Midiateca Online.
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Henrique Schützer Del Nero (1959-2008),
O psiquiatra Henrique Schützer Del Nero, fundador e coordenador do Grupo de Ciência Cognitiva do IEA nos anos 90, morreu no dia 9 de maio, aos 48 anos, vítima de infarto. Nos últimos dez anos, Del Nero era professor do programa de pós-graduação do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, onde atuava no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ciência Cognitiva, que criou e coordenou de 2003 a 2005. Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP, era também bacharel e mestre em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e doutor em engenharia de sistemas pela Escola Politécnica. Em 2000, foi professor visitante na Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Pesquisador com múltiplos interesses, manteve em paralelo à sua carreira como psiquiatra uma dedicação voluntária a atividades acadêmicas na USP a partir de 1990, quando fundou o Grupo de Ciência Cognitiva do IEA, que coordenou até 1997. Após o encerramento do grupo, fundou o núcleo na Escola Politécnica. O grupo e o núcleo sempre tiveram composição interdisciplinar, a exemplo do perfil intelectual de Del Nero, com a participação de pesquisadores e profissionais de áreas como computação, biociências, psicologia, filosofia, engenharia, direito, economia e comunicação. Escreveu três livros: "O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano" (1997), "O Equilíbrio Necessário" (1998) e "Anarquia e Alucinações" (1982). Foi autor também de quatro capítulos de livros, 15 artigos científicos e dezenas de artigos para a imprensa. Del Nero era casado com a psiquiatra Lúcia Maciel e pai de quatro filhos.
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