Loading |
||||
Boletim do IEA-USP — nº 177 — julho de 2012 |
|||
LANÇAMENTO PROPOSTAS |
|||
LEMBRETE Conheça a seção Textos do site do IEA |
|||
No contexto de globalização crescente, em que o Brasil figura entre as economias que mais crescem no mundo, o perfil das migrações envolvendo o país vem mudando. Se antes o movimento migratório caracterizava-se pela saída de pessoas, atualmente nota-se um aumento do número de estrangeiros entrando e de brasileiros retornando. Em sintonia com esse novo cenário, marcado pelas tensões que emergem do contato entre culturas, o Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA lança o livro "Diálogos Interculturais: Reflexões Interdisciplinares e Intervenções Psicossociais", editado pelo Instituto e já disponível para download gratuito. Organizada por Sylvia Duarte Dantas, coordenadora do grupo, a obra consiste numa coletânea de 17 textos divididos em três partes, precedidos de prefácio escrito pela psicóloga Bader Sawaia, professora titular da PUC-SP e ex-conselheira do IEA, e de introdução de Dantas. A primeira parte compila debates travados no seminário Diálogos Interculturais: O Que Somos e o Que Revelamos, realizado em novembro de 2010 pelo grupo, com apoio do Curso de Serviço Social da Unifesp. São reflexões teóricas de pesquisadores que vêm investigando as interações entre culturas a partir de diferentes disciplinas, como literatura, sociologia, psicologia e antropologia. A segunda parte reúne estudos apresentados no seminário Orientação Intercultural: Novas Reflexões e Campos de Intervenção, que aconteceu em junho de 2007 como parte do projeto Intervenção Psicossocial no Processo de Inserção Cultural, desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP por Dantas e pelo professor Geraldo José de Paiva. Os textos, produzidos por pesquisadores que integraram a equipe do projeto, exploram casos de orientação e atendimento de pessoas confrontadas com novas culturas. Dois textos independentes dos seminários compõem a terceira parte da obra. Eles ilustram a interculturalidade através do relato da experiência de imigrantes no Brasil. Trata-se do depoimento de um pesquisador coreano que conta sua vivência pessoal como estrangeiro vivendo no país desde os oito anos; e de um artigo com os resultados de uma pesquisa de mestrado sobre a realidade de imigrantes muçulmanas na cidade de São Paulo.
INTERDISCIPLINARIDADE Segundo Dantas, o fio condutor de todo o livro é o contato entre culturas visto a partir de uma perspectiva interdisciplinar: "A coletânea de textos expressa a complexidade dessa questão, que não pode ser abordada com base em uma só disciplina. Ao olhar a interculturalidade através das lentes de uma única disciplina corre-se o risco de reduzir e engessar algo que é complexo e paradoxal, pois o contato entre culturas pode ser tanto enriquecedor, por desnaturalizar o que é tido como dado ao expor outras formas de ser, agir e pensar, quanto endurecedor, já que também resulta em manifestações de intolerância, dominação, imposição e violência". GLOBALIZAÇÃO A pesquisadora também destaca que a temática do livro é estratégica no contexto atual de globalização e, particularmente, de crise econômica mundial, que vem provocando alterações nos movimentos migratórios, como as que se observam no Brasil, e suscitando novas formas de interação entre as culturas. "É preciso compreender esses fenômenos para então pensar políticas que promovam relações mais igualitárias e humanizadas com os migrantes", alerta. Na opinião da organizadora do livro, o que ocorre nesse momento de globalização é a desumanização de grupos e o acirramento de fronteiras: "Em qualquer lugar, o migrante sempre é visto como uma ameaça em uma situação de crise, e o Brasil não está isento disso. Nosso histórico de colonização e escravidão deixou marcas profundas, sobretudo na forma de uma hierarquização das etnias e nações. Imigrantes vindos de países do norte e do sul recebem tratamentos diferentes dos brasileiros. Nós sofríamos um preconceito que agora se reproduz aqui, com pessoas vindas da África negra ou do Haiti, por exemplo".
|
|||
Em encontro realizado em 25 de junho, essa característica marcante ficou evidente na apresentação das propostas de trabalho do Instituto de Estudos Avançados Jawaharlal Nehru (JNIAS) e do IEA-USP por seus diretores, Aditya Mukherjee e Martin Grossmann, respectivamente. INSTITUTO GLOBAL Para situar o contexto da criação do JNIAS em 2004, Mukherjee destacou que a JNU surgiu em 1969 para estimular o desenvolvimento das ciências sociais na Índia de forma semelhante ao crescimento apresentado pelas ciências naturais nos anos 50 e 60. "A JNU é uma universidade pública e gratuita criada com o objetivo de ser um centro de pensamento independente, que não replicasse os centros de reflexão do Ocidente; de abrangência nacional, com o recrutamento de estudantes de toda a Índia; e secular, no sentido indiano do termo: não avessa à religião, mas sem ligação com nenhuma delas." O JNIAS tem por meta ser um instituto global. Todos os residentes são estrangeiros e de preferência de lugares do mundo com pouco intercâmbio acadêmico com a Índia. Já contou com a participação de pessoas de 25 países, inclusive um microbiologista brasileiro. "O desafio é conseguir um bom pesquisador. Quando isso acontece, basta sua presença no instituto. Todos o convidarão e ele ficará ocupado o tempo todo com palestras, seminários e contatos com os estudantes," comentou. Para estimular a troca de ideias e experiências, o JNIAS funciona em um prédio próprio, com apartamentos onde vivem seus integrantes e espaços para convivência e eventos. Atualmente há 14 pesquisadores residentes e o objetivo é atingir 30, de acordo com Mukherjee. O instituto procura sempre contar com a participação de pelo menos uma pessoa das áreas de criação (artes visuais, cinema, teatro, literatura etc.), "que é sempre quem faz as perguntas mais difíceis nas apresentações de cientistas". Mukherjee disse que um dos casos mais bem sucedidos foi a residência do dramaturgo, poeta e ativista social sul-africano Ari Sitas, que trabalhou com Nelson Mandela no movimento de reconciliação da África do Sul: "Não lhe pedimos para ensinar. Ele simplesmente veio e foi convidado a trabalhar no país inteiro. Isso é o melhor que podemos fazer. A universidade, a cidade, o país devem se beneficiar das pessoas que conseguimos trazer". TRANSIÇÃO "O IEA-USP é vanguarda no sistema conservador que é a Universidade. Não que ela seja do passado. De forma alguma. Ela é o bastião do conhecimento. Mas para se atualizar, estar em sintonia com novas realidades, precisa de agentes como o IEA", comentou Grossmann na sua apresentação. Ele considera que o Instituto está numa fase de transição, depois de seus primeiros 25 anos com um perfil de atuação tipicamente modernista, baseado nas contribuições de grandes nomes da ciência e da cultura. "É preciso resgatar o seu papel de lugar do debate, da troca de experiências, onde encontros impossíveis se tornem possíveis e aqueles irreconciliáveis confrontem suas ideias." A preocupação de Grossmann na passagem para uma conjuntura pós-modernista é como o Instituto poderá agir de forma mais metacrítica, mais consciente da constituição de novas centralidades: "É preciso promover mudanças no sistema operacional do IEA, não só para ele se relacionar com o que acontece, mas também para ter a ambição de promover transformações". Foi com esse espírito que Grossmann apresentou seu Projeto de Gestão 2012-2017 ao Conselho Deliberativo do Instituto em maio. Nele, propôs a instituição de um novo modo de organização das atividades: a organização de temáticas que "permitam uma melhor ideia de identidade do IEA, deixando mais claros os objetivos e metas e aprimorando a comunicação entre os grupos de pesquisa". As temáticas serão tratadas como metacuradorias, uma concepção de gestão mais crítica e mais transparente em termos das linguagens utilizadas, segundo Grossmann. "Em vez de dar voz a um sujeito, empoderar um curador, a metacuradoria já parte do princípio de que os organizadores são vários: um grupo interdisciplinar que dê conta de temáticas urgentes que merecem atenção científica ou cultural". As metacuradorias previstas no projeto são quatro: O Comum, Transformação, Glocal e Abstração. O Comum será o espaço da coletividade, do acesso, do bem-estar, da democracia, dos direitos humanos, da justiça social, das ambiências e interfaces socioculturais. "A escolha dessa temática surgiu de uma análise crítica da USP, sobre como tratar a questão da democracia e do diálogo entre os setores que a compõem, sobre como dialogar com a sociedade e a ela prestar contas." Grossmann informou que o desembargador José Renato Nalini, conselheiro do IEA, já propôs um tema de análise: a judicialização da vida brasileira, com todas as disputas entre os indivíduos sendo levadas aos tribunais. A metacuradoria Transformação tem por objeto a educação e sua capacidade de transformar. "Os governos do país desde a redemocratização não apresentaram projetos claros de educação. Se o Brasil pretende se tornar uma centralidade e atrair conhecimentos e experiências, tem de passar por uma transformação imbricada no social e aí a educação torna-se fundamental para transformar a sociedade." Para Grossmann, essa metacuradoria poderia inclusive abrigar as discussões sobre o futuro da USP. A metacuradoria Abstração volta-se para as especulações teóricas, filosofia, pensamento abstrato em geral, uma vez que é a partir dessas reflexões que a ciência define seus rumos e, no final, possibilita aplicações diversas do conhecimento. Grossmann destacou que esse ponto de reflexão, de pensamento do novo e de novas interfaces é fundamental no desenvolvimento de um instituto como o IEA. Ele pensa inclusive na possibilidade de uma Academia IEA e citou como prenúncio disso um projeto formulado no âmbito da Ubias, rede de IEAs vinculados a universidades, da qual o JNIAS e o IEA fazem parte. Nesse projeto, 30 jovens pesquisadores com potencial para serem líderes nas suas áreas de conhecimento passarão por uma imersão de um mês na IEA-USP e depois mais um mês no Instituto de Pesquisa Avançada da Universidade de Nagoya, Japão, sob a tutoria de três cientistas de prestígio internacional. APLICAÇÃO Em complemento às metacuradorias, Grossmann propõe a criação de um Programa de Altos Estudos Dirigidos: "A USP recentemente ampliou as atividades em Santos, tendo em vista as descobertas de petróleo e gás no pré-sal. A USP está dando respostas à formação de profissionais e ao desenvolvimento de tecnologias para a área. Mas será que não existem outras demandas reprimidas ou que se possam imaginar para o futuro próximo?" Por fim, destacou que o IEA pretende fazer pleno uso das transmissões em alta definição possibilitadas pela internet 2 e com isso propiciar a existência de residências virtuais: "Um formato previsto é o de debates com telepresença, com a participação de pessoas ao redor do mundo em um cenário digital avançado".
|
|||
EXPEDIENTE |
|||
UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO INSTITUTO DE
ESTUDOS AVANÇADOS contato, Para cancelar o envio, escreva "Retirar" no "Assunto" da resposta. |